Acordei
Acordei – Paulo Braga Silveira Junior
Eis que eu sonhava solto, no meu leito,
e vi o amor chegando-me ligeiro
oferecendo graças ao primeiro
que o acolhesse pleno junto ao peito!
O fiz, e ele me olhando zombeteiro
me disse que seu laço estava feito
e que eu encontraria o amor perfeito
naquela que desejo, eu, por inteiro.
Por certo que eras tu, pensei comigo
já dando, a tal paixão, total abrigo
no prometido e o tendo, já, por dado…
Mas acordei e, ao leito, só a saudade…
Tomei por norma, após cruel maldade,
que amor existe é só pra ser sonhado!…
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Apresentaremos abaixo um Soneto de Tomás Antônio Gonzaga. Tanto o soneto de Paulo Braga Silveira Junior quanto o de Tomás Antônio Gonzaga exploram a jornada do eu lírico ao acordar para a realidade e confrontar desilusões. Em ambos os poemas, o ato de acordar representa um despertar doloroso, revelando a natureza fugaz e ilusória das expectativas e sonhos.
No soneto de Paulo Braga Silveira Junior, o eu lírico descreve um sonho em que o amor se apresenta intensamente, mas ao despertar, a realidade se mostra cruel, com a saudade e a solidão sendo suas únicas companheiras. Nesse despertar doloroso, o poeta percebe que o amor perfeito era apenas uma fantasia, impossível de ser concretizado na vida real.
Já no soneto de Tomás Antônio Gonzaga, o eu lírico sonha com a Fortuna apresentando um tesouro repleto de riquezas e poder. Porém, ao acordar, a ilusão se desfaz e o poeta constata que tudo não passou de um devaneio. A desventura ainda persiste, e a conclusão é que a verdadeira aventura nunca chega a ser alcançada, permanecendo apenas como um sonho.
Esses sonetos revelam a desilusão que muitas vezes acompanha o despertar para a realidade. Ambos os poetas expressam a dor de perceber que as aspirações e expectativas podem se dissipar como névoa ao amanhecer. É como se o ato de acordar trouxesse consigo a desilusão e a compreensão de que certos desejos podem nunca se realizar.
Assim, nos sonetos de Paulo Braga Silveira Junior e Tomás Antônio Gonzaga, o despertar representa o confronto das ilusões e a triste constatação de que a felicidade sonhada pode ser apenas uma miragem. Essa temática em comum ressalta a complexidade das emoções humanas diante das desilusões que a vida nos impõe.
Leia abaixo na íntegra o Soneto.
Marília de Dirceu:
soneto II
Tomás Antônio Gonzaga
(1744-1810)
Num fértil campo de soberbo Douro,
dormindo sobre a relva descansava,
quando vi que a Fortuna me mostrava
com alegre semblante o seu Tesouro.
De uma parte, um montão de prata e ouro
com pedras de valor o chão curvava;
aqui um cetro, ali um trono estava,
pendiam coroas mil de grama e louro.
Acabou (diz-me então) a desventura:
De quantos bens te exponho qual te agrada,
pois benigna os concedo, vai, procura.
Escolhi, acordei, e não vi nada:
comigo assentei logo que a ventura
nunca chega a passar de ser sonhada.
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