Ansiedade
Ansiedade – Paulo Braga Silveira Junior
Incômodo do ser… É a ansiedade
chegando de surpresa no momento…
Fantasma bagunçando o pensamento
sem ter, por nós, cuidado ou piedade.
Sufoca o peito vindo num tormento
e, sem qualquer respeito, nos invade
trazendo n’alma a fúria em tempestade
feito a desejo, por prazer, sedento!
A carne pulsa uma vontade intensa
sem nada que lhe impeça ou lhe convença
de nos atormentar por toda a noite…
É sede do querer… Falta do abrigo…
Soluços vindo de um querer antigo
que volta a nos ferir com seu açoite!
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Ansiedade – Paulo Braga Silveira Junior
Sofri tentando ter, da minha vida,
total controle dela, ao dia a dia,
mas vi que muita coisa acontecia
durante o sono meu, aquém da lida!
Ao acordar pro tempo que nascia
por graça, imerecida, concedida,
a história se mantinha, ali, fluída
sem minha intervenção onde ela agia.
Então, por que sofrer tanta ansiedade
se a providência atua, na verdade,
me preparando tudo o que preciso?…
Joguei toda a ansiedade na lixeira
e dei um fim no que me era canseira
prá descansar, no instante, de improviso!
Certeza – Paulo Braga Silveira Junior
Alguns dos dias teus, tenha certeza,
serão, de sol, banhados, limpo céu
se como desenhados no papel
com linhas de ternura e de beleza!
Os outros mais, na ponta do pincel,
serão traçados tristes, com frieza,
com chuvas de ansiedade e de incerteza
num revoltoso, cinza e opaco véu.
Quaisquer que sejam, pois, os dias teus,
de abraços, risos, choro ou de um adeus
relembres ter a fé por forte abrigo…
Quer venham chuvas fortes no teu dia
ou tenha a luz do sol por companhia
o meu amor sempre estará contigo!…
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Metade – Paulo Braga Silveira Junior
Acordo em meio à noite, assim, do nada,
talvez por prisioneiro da ansiedade
que chega afoita e, esse meu sono, invade
sedenta, insana, fria, estabanada!…
Que hei de fazer se impõe prioridade
e tem todos os meios na embalada
pra me roubar inteira a madrugada
qual fosse, em si, rainha, uma deidade?!
Essa agonia vem, me racha ao meio,
me furta o sonho que, por tal, anseio
agindo em plena e inteira liberdade…
É noite, meia noite, meia lua,
eu morro em meio da saudade tua;
do amor que nós vivemos só metade!
Presente no presente – Paulo Braga Silveira Junior
Vivi dos atropelos, da ansiedade,
dos dramas construídos só na mente
de que, o amor, se iria, de repente,
ou perderia o ardor da mocidade!…
Não vi o cair da tarde, lentamente,
o pôr do sol fugindo da cidade,
nem, do clarão da lua, a intensidade
nas noites, me envolvendo docemente.
Fui, só, trabalho, grana, produção,
constante encargo e preocupação
tumultuando o instante, como o vento…
Me veio a paz; da vida, a consciência
e quero, pra alma, em doce permanência,
presente estar no presente momento!
Mais alguns poemas sobre ansiedade, de outros renomados autores:
Anseios – Florbela Espanca
Meu doido coração aonde vais,
No teu imenso anseio de liberdade?
Toma cautela com a realidade;
Meu pobre coração olha cais!
Deixa-te estar quietinho! Não amais
A doce quietação da soledade?
Tuas lindas quimeras irreais
Não valem o prazer duma saudade!
Tu chamas ao meu seio, negra prisão!…
Ai, vê lá bem, ó doido coração,
Não te deslumbre o brilho do luar!
Não estendas tuas asas para o longe…
Deixa-te estar quietinho, triste monge,
Na paz da tua cela, a soluçar!…
Florbela Espanca, in “A Mensageira das Violetas”
As minhas ansiedades – Fernando Pessoa
As minhas ansiedades caem
Por uma escada abaixo.
Os meus desejos balouçam-se
Em meio de um jardim vertical.
Na Múmia a posição é absolutamente exata.
Música longínqua,
Música excessivamente longínqua,
Para que a Vida passe
E colher esqueça aos gestos.
Fernando Pessoa, in ‘Cancioneiro’
[…] Ansiedade […]